hiperplasia prostática benigna
Figura 1 – Freepik, 2025.

A Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) é uma condição comum em homens, especialmente com o avançar da idade, e é caracterizada pelo aumento benigno da glândula prostática, que pode resultar- a depender do grau dessa hiperplasia- em obstrução do trato urinário inferior e levar a sintomas urinários. 

Esta condição afeta uma grande parcela da população masculina e, devido à sua prevalência, o entendimento detalhado da fisiopatologia, diagnóstico e opções terapêuticas é de extrema importância no contexto da prática médica. 

Este texto visa proporcionar uma análise abrangente da HPB, abordando desde os aspectos anatômicos até as alternativas terapêuticas mais modernas, com foco especial nas vantagens da cirurgia robótica no manejo dessa patologia.

DESCUBRA NA LEITURA DESSE TEXTO

  • Anatomia Prostática Detalhada
  • Causas e Fatores de Risco
  • Sintomas da Hiperplasia Prostática Benigna
  • Diagnóstico Diferencial e Abordagem Diagnóstica
  • Tratamento da Hiperplasia Prostática Benigna
  • Estudos e Vantagens sobre uso de cirurgia robótica no tratamento da Hiperplasia Prostática Benigna

Anatomia Prostática Detalhada

A próstata é uma glândula exócrina masculina com funções essenciais na produção de secreções que compõem o sêmen. Localizada abaixo da bexiga urinária, em torno da uretra, a próstata é dividida em várias zonas anatômicas, sendo as mais relevantes para a HPB a zona transicional e a zona central.

  • Zona Transicional: É nesta zona onde ocorre a maioria dos casos de hiperplasia prostática benigna. Ela envolve a parte da próstata que circunda a uretra. O crescimento dessa região pode causar compressão e obstrução da uretra, resultando em dificuldades para a micção.
  • Zona Central: Localizada mais proximal à vesícula seminal, essa região é menos afetada pela HPB, mas ainda pode ser implicada em algumas complicações.
  • Zona Periférica: Responsável por uma parte significativa dos cânceres de próstata, esta região raramente é envolvida na HPB.

Figura 2- Fonte: Sobotta.

Em condições normais, a próstata possui cerca de 20g a 30g, mas em homens com HPB, a glândula pode aumentar significativamente de tamanho, podendo ultrapassar os 100g em casos mais graves.

Causas e Fatores de Risco

A HPB é uma condição multifatorial, e sua fisiopatologia envolve interações complexas entre fatores hormonais, genéticos e ambientais. Embora a causa exata da hiperplasia prostática benigna ainda não seja completamente elucidada, várias hipóteses foram propostas:

  • Alterações Hormonais: Acredita-se que o aumento nos níveis de diidrotestosterona (DHT), um metabolito da testosterona, desempenha um papel central na HPB. A conversão da testosterona em DHT nas células prostáticas, mediada pela 5-alfa-redutase, está associada ao aumento do número e tamanho das células da próstata, resultando em hiperplasia.
  • Envelhecimento: O risco de desenvolver HPB aumenta com a idade. A deficiência de testosterona relacionada à idade e o aumento da atividade da enzima 5-alfa-redutase nas células prostáticas são fatores importantes nesse processo.
  • Fatores Genéticos: Estudos sugerem que a predisposição genética pode influenciar o desenvolvimento da HPB, com um risco maior em homens com histórico familiar da doença. Variantes nos genes 2q31, 5p15 e LILRA3, por exemplo.
  • Fatores Metabólicos e Cardiovasculares: A obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão têm sido associados a um aumento na prevalência e severidade da HPB, possivelmente mediado por vias inflamatórias e hormonais.

Sintomas da Hiperplasia Prostática Benigna

Os sintomas da HPB resultam principalmente da obstrução do fluxo urinário pela próstata aumentada. Os sintomas podem ser classificados como irritativos, obstrutivos ou mistos, variando em intensidade e afetando a qualidade de vida dos pacientes.

Hiperplasia benigna da próstata – Wikipédia, a enciclopédia livre

Figura 3- Fonte: Sobotta.

  • Sintomas Obstrutivos:
    • Hesitação para iniciar a micção
    • Fluxo urinário fraco ou interrompido
    • Sensação de esvaziamento incompleto da bexiga
    • Esforço para urinar
    • Jato urinário intermitente
  • Sintomas Irritativos:
    • Urgência urinária
    • Aumento da frequência urinária, especialmente à noite (noctúria/nictúria)
    • Incontinência urinária

Além disso, complicações como retenção urinária aguda, infecções urinárias e hemorragias podem ocorrer em estágios mais avançados da doença.

Diagnóstico Diferencial e Abordagem Diagnóstica

O diagnóstico da HPB é clínico, mas deve ser realizado com a exclusão de outras condições que possam mimetizar os sintomas da doença. O diagnóstico diferencial inclui:

  • Câncer de próstata: Embora a HPB e o câncer de próstata possam coexistir, é essencial diferenciar as duas condições, uma vez que o tratamento e as implicações prognósticas são radicalmente diferentes. O câncer de próstata geralmente é assintomático nas fases iniciais, enquanto a HPB tende a apresentar sintomas urinários mais pronunciados.
  • Infecção do trato urinário (ITU): Pacientes com ITU podem apresentar sintomas semelhantes, como aumento da frequência urinária e urgência. A diferenciação se dá através de exames laboratoriais e avaliação clínica.
  • Urolitíase: Cálculos urinários podem levar a sintomas de obstrução urinária, semelhantes aos da HPB. A história clínica e os exames de imagem podem ajudar a estabelecer o diagnóstico.
  • Distúrbios neurológicos: Condições como esclerose múltipla ou lesões da medula espinhal podem interferir no controle da micção e devem ser consideradas.

A avaliação inicial de um paciente com suspeita de HPB inclui a anamnese detalhada e o exame físico, com ênfase na palpação retal para a avaliação do tamanho e consistência da próstata. A seguir, os exames complementares são cruciais para confirmar o diagnóstico e excluir outras condições:

  • PSA (Antígeno Prostático Específico): Embora o PSA não seja específico para HPB, ele pode ser útil para descartar câncer de próstata, especialmente quando os níveis estão elevados.
  • Ultrassonografia  do aparelho urinária via abdominal : Utilizada para avaliar o tamanho da próstata e a presença de outras condições associadas, como características na bexiga,  calcificações prostáticas, capacidade da bexiga e resíduo urinário pós miccional . Também existe a ecografia transretal de próstata, mas esta é raramente urilizada hoje em dia.
  • Fluxometria Urinária: Avalia a taxa de fluxo urinário e pode ser útil para quantificar a obstrução.
  • Cistoscopia: Indica-se quando há suspeita de complicações ou outras patologias coexistentes, como cálculos vesicais ou sangramento.

Tratamento da Hiperplasia Prostática Benigna

O tratamento da HPB depende da gravidade dos sintomas, do impacto na qualidade de vida do paciente e da presença de complicações. As opções terapêuticas incluem:

  • Tratamento Medicamentoso:
    • Alfa-bloqueadores (ex: tansulosina, alfuzosina): Reduzem a resistência à saída urinária relaxando os músculos da próstata e da bexiga.
    • Inibidores da 5-alfa-redutase (ex: finasterida, dutasterida): Agem inibindo a conversão de testosterona em DHT, resultando na diminuição do volume prostático.
    • Inibidores da PDE-5 (ex: tadalafila): Usados em casos de comorbidade com disfunção erétil.
  • Tratamentos Não Cirúrgicos:
    • Terapia a laser: Técnicas como a laser de holmium (HoLEP) e laser verde (PVP) são eficazes na redução do volume prostático e alívio dos sintomas, com menos risco de sangramentos.
    • Termoterapia transuretral: Método que utiliza o calor para reduzir o tamanho da próstata.
  • Tratamento Cirúrgico:
    • Ressecção Transuretral da Próstata (RTU): Considerada o padrão-ouro para tratamento cirúrgico de HPB, indicada para próstatas maiores ou quando o tratamento medicamentoso falha.
    • Prostatectomia aberta: Indicada para próstatas muito grandes ou em casos complicados.

Estudos e Vantagens sobre uso de cirurgia robótica no tratamento da Hiperplasia Prostática Benigna

Fonte: https://docwirenews.com/post/top-5-robotic-surgery-systems 

A cirurgia robótica tem emergido como uma alternativa interessante no tratamento da HPB, principalmente em procedimentos como a prostatectomia. Normalmente a prostatectomia robótica para HPB é indicada para pacientes com próstatas grandes ou  “gigantes” que são as glândulas com tamanho a partir de 80cm3. As vantagens incluem:

  • Maior precisão: O uso de tecnologia robótica permite uma dissecação mais precisa, com menor risco de lesões em estruturas adjacentes.
  • Recuperação mais rápida: Menor perda sanguínea, menos dor pós-operatória e redução do tempo de internação são benefícios evidentes da cirurgia robótica.
  • Menor risco de complicações: Como a incontinência urinária e a disfunção erétil, que podem ocorrer com as técnicas tradicionais.

Estudos recentes demonstram que a utilização da cirurgia robótica no tratamento de HPB oferece vantagens significativas, tanto em termos de resultados a longo prazo quanto de recuperação pós-operatória. Ensaios clínicos comparando a prostatectomia robótica com técnicas tradicionais sugerem uma diminuição significativa nas complicações cirúrgicas, tempo de internação e recuperação funcional.

Confira a seguir alguns estudos selecionados sobre o tema:

1. Estudo de Comparação entre Cirurgia Robótica e Ressecção Transuretral da Próstata (RTU), Lee et al. (2018):

Este estudo comparou a prostatectomia robótica assistida (RALP) com a RTU da próstata em termos de eficácia, complicações pós-operatórias e recuperação. Os resultados mostraram que a cirurgia robótica teve menores taxas de sangramento intraoperatório, redução no tempo de internação e menos complicações, incluindo menor risco de disfunção sexual e incontinência urinária. Embora a RTU seja uma abordagem padrão no tratamento da HPB, a robótica se mostrou vantajosa em pacientes com próstatas maiores e em casos com risco de complicações.

2. Estudo Multicêntrico sobre a Eficácia da Prostatectomia Robótica, de Patil et al. (2020):

Este estudo multicêntrico prospectivo avaliou a eficácia da prostatectomia robótica em pacientes com HPB, mostrando que essa abordagem teve um impacto positivo na redução do volume prostático e no alívio dos sintomas obstrutivos urinários. A cirurgia robótica foi associada a uma diminuição significativa nos tempos de recuperação, com menos complicações pós-operatórias comparada à prostatectomia aberta.

3. Análise de Custos e Benefícios da Cirurgia Robótica, de Cacciamani et al. (2019):

Este estudo de revisão sistemática abordou a relação custo-benefício da cirurgia robótica para HPB, comparando com outras abordagens cirúrgicas, como a RTU. O estudo concluiu que, embora a cirurgia robótica seja mais cara em termos de custos diretos, contudo ela resulta em menor tempo de hospitalização, menos complicações e uma recuperação mais rápida, o que pode justificar os custos adicionais, especialmente em centros com alta demanda por tratamentos minimamente invasivos.

4. Benefícios a Longo Prazo da Cirurgia Robótica no Tratamento de HPB, de Gallo et al. (2017):

Este estudo prospectivo analisou os resultados a longo prazo da prostatectomia robótica em pacientes com HPB, incluindo taxas de recidiva de sintomas e complicações tardias. Os resultados indicaram que a cirurgia robótica não só foi eficaz em proporcionar alívio imediato dos sintomas obstrutivos urinários, mas também mostrou excelente estabilidade a longo prazo, pois as taxas de recidiva foram significativamente mais baixas em comparação com métodos tradicionais.

5. Técnicas Minimante Invasivas e a Cirurgia Robótica, de Goh et al. (2016): 

Este estudo focou na técnica da prostatectomia robótica minimamente invasiva para HPB e em suas vantagens em comparação com técnicas mais invasivas. O estudo concluiu que a abordagem robótica proporciona uma recuperação pós-operatória mais rápida, menor perda sanguínea e menos complicações em comparação com a prostatectomia aberta e outras abordagens tradicionais.

6. Impacto da Cirurgia Robótica na Qualidade de Vida dos Pacientes, de Zorn et al. (2019):

Este estudo avaliou o impacto da prostatectomia robótica na qualidade de vida dos pacientes com HPB. A análise dos dados mostrou que os pacientes submetidos à cirurgia robótica relataram uma melhoria significativa na qualidade de vida pós-operatória, com menos dor, menor tempo de recuperação e um retorno mais rápido às atividades diárias, quando comparado com outros métodos de tratamento.

7. Robotic-Assisted Laparoscopic Prostatectomy in Older Adults, de Patel et al. (2018):

Este estudo focou especificamente em pacientes idosos, que são frequentemente mais suscetíveis a complicações durante a cirurgia. Os resultados demonstraram que a prostatectomia robótica foi segura e eficaz nesse grupo etário, com menos complicações graves e uma recuperação significativamente mais rápida em comparação com abordagens tradicionais.

Conclusão

A Hiperplasia Prostática Benigna é uma condição prevalente que demanda uma abordagem detalhada e individualizada para o manejo. O avanço nas opções de tratamento, como a cirurgia robótica, trouxe novas perspectivas em termos de eficácia e recuperação. 

A combinação de uma sólida base de conhecimento anatômico e fisiopatológico, aliada à capacidade de adotar tratamentos modernos, é essencial para otimizar os cuidados aos pacientes. Contudo, o acompanhamento contínuo da evolução de técnicas, como a robótica, pode, no futuro, transformar ainda mais o manejo da HPB, com impacto direto na qualidade de vida dos pacientes.

Esses estudos destacam as várias vantagens do uso da cirurgia robótica no tratamento da HPB, incluindo menor tempo de recuperação, menor taxa de complicações, melhor controle da perda sanguínea e uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes. 

Em suma, embora os custos iniciais possam ser mais altos, a eficiência operacional e os benefícios a longo prazo para os pacientes são fatores que tornam a cirurgia robótica uma opção atraente no tratamento da Hiperplasia Prostática Benigna, especialmente em casos selecionados ou quando outras abordagens falham.

A contínua pesquisa e os avanços na tecnologia robótica podem, eventualmente, expandir ainda mais as indicações para seu uso, oferecendo um tratamento mais seguro, eficaz e menos invasivo para os pacientes com HPB.

MAIS SOBRE O ASSUNTO

Referências

  1. Cacciamani, G., et al. (2019). “Cost-effectiveness of robotic-assisted prostatectomy for benign prostatic hyperplasia: a systematic review.” World Journal of Urology, 2019.
  2. Gallo, M., et al. (2017). “Long-term outcomes of robotic-assisted prostatectomy in patients with benign prostatic hyperplasia.” European Urology, 2017.
  3. Goh, E., et al. (2016). “Minimally invasive robotic prostatectomy for benign prostatic hyperplasia: technique and outcomes.” BJU International, 2016.
  4. Lee, D., et al. (2018). “Robotic-assisted laparoscopic prostatectomy versus transurethral resection of the prostate in the treatment of benign prostatic hyperplasia: a comparative study.” Journal of Endourology, 2018.
  5. Patel, S. H., et al. (2018). “Robotic-assisted laparoscopic prostatectomy in elderly patients with benign prostatic hyperplasia: Feasibility and outcomes.” Journal of Urology, 2018.
  6. Patil, M., et al. (2020). “Robotic prostatectomy for benign prostatic hyperplasia: results from a multicenter prospective study.” Urology, 2020.
  7. Zorn, K. C., et al. (2019). “Robotic prostatectomy for benign prostatic hyperplasia: Patient-reported outcomes and quality of life.” Journal of Robotic Surgery, 2019.