Os rins possuem inúmeras funções vitais no corpo humano. Órgãos filtradores por excelência, possuem como principais atribuições eliminar substâncias metabolizadas pelo organismo, produzir hormônios que estimulam a produção de glóbulos vermelhos e estabilizar a pressão arterial por intermédio da homeostase entre a quantidade de água e sais no corpo.
Contudo, podem ser afetados por algumas patologias, dentre elas, o câncer renal, também conhecido como carcinoma de células renais, uma das neoplasias urológicas mais comuns, representando cerca de 2-3% de todos os cânceres em adultos.
A incidência desse tipo de patologia tem aumentado nas últimas décadas, provavelmente devido ao maior uso de técnicas de imagem que detectam tumores renais incidentalmente. O tratamento do câncer renal evoluiu significativamente, com a cirurgia robótica emergindo como uma opção minimamente invasiva e altamente eficaz.
Este artigo abordará o diagnóstico, sintomas, opções de tratamento e, principalmente, as vantagens da cirurgia robótica no manejo do câncer renal.
Desejo uma boa leitura!
DESCUBRA NA LEITURA DESSE TEXTO
- Diagnóstico do Câncer Renal
- Opções de Tratamento para o Câncer Renal
- Cirurgia Robótica no Tratamento do Câncer Renal
- Diagnóstico Diferencial e Abordagem Diagnóstica
- Estudos que apoiam a utilização da cirurgia robótica no tratamento do Câncer Renal
Diagnóstico do Câncer Renal
Sinais e Sintomas
O câncer renal é frequentemente assintomático em seus estágios iniciais, sendo descoberto incidentalmente durante exames de imagem realizados por outras razões. Por ser uma doença silenciosa, é importante que pacientes com fatores de risco realizem exames de rotina para não serem surpreendidos por uma condição mais avançada.
No entanto, à medida que a doença progride, os sintomas podem incluir:
- Hematúria: Presença de sangue na urina, que pode ser visível ou detectada apenas microscopicamente.
- Dor lombar: Geralmente unilateral e persistente.
- Massa abdominal palpável: Em casos avançados, uma massa pode ser palpável no abdômen.
- Sintomas sistêmicos: Perda de peso inexplicada, febre, sudorese noturna e fadiga, dores de cabeça e tontura, falta de ar, tosse. Caso a doença já esteja em um grau avançado com metástase, por exemplo, é possível que aconteçam problemas ósseos decorrentes de implantação secundária.
Costuma ser uma doença que atinge mais o público masculino, com idade entre 50-70 anos, no entanto, qualquer pessoa está sujeita ao seu aparecimento.
Principais fatores de risco para o carcinoma renal:
Antes de mais nada, ao buscar entender quais são as causas do câncer de rim, é preciso elencar alguns importantes fatores de risco para o desenvolvimento da neoplasia:
- Obesidade
- Paciente crônico de hemodiálise
- Hipertensão
- Contato com certos materiais (cádmio, asbestos, chumbo e hidrocarbonetos aromáticos)
- Parente de primeiro grau com a doença
Principais subtipos de carcinoma renal:
- Carcinoma de Células Renais de Células Claras: tipo mais comum, abarcando entre 70% e 90% dos casos. Trata-se da presença de células malignas originadas dos túbulos responsável por filtrar as impurezas do sangue;
- Carcinoma de Células Renais Papilar: segundo subtipo mais comum. Pode tanto apresentar comportamento mais agressivo quanto mais indolente do que o de células claras. Representa entre 10% e 15% dos casos;
- Carcinoma de Células Renais Cromófobo: mais difícil de ser encontrado, esse câncer é o tipo menos agressivo e representa entre 4% e 5% dos casos;
- Carcinoma de Células Renais dos Ductos de Bellini: corresponde apenas a 1% dos casos e é um tipo de câncer mais agressivo, originado nos ductos coletores, estruturas do rim também conhecidos como ductos de Bellini;
- Carcinoma Renal Sarcomatóide: também agressivo e com ocorrência similar (1%). Semelhante ao Carcinoma de Células Renais Claras mas com comportamento mais invasivo
- Carcinoma urotelial: diferente dos anteriores, não é uma neoplasia originada do parênquima renal, mas sim da camada de células que reveste o sistema coletor de que leva a urina dos rins, passando pelos ureteres, bexiga até a uretra. Muito relacionado ao tabagismo.
Métodos de Diagnóstico
Primeiramente, é preciso dizer que o diagnóstico do câncer renal envolve uma combinação de técnicas de imagem e, em alguns casos, biópsia:
- Ultrassonografia: Frequentemente o primeiro exame realizado, pode identificar massas renais e cistos.
- Tomografia Computadorizada (TC): O método de imagem mais utilizado para caracterizar tumores renais, fornecendo detalhes sobre o tamanho, localização e extensão do tumor.
- Ressonância Magnética (RM): Útil em casos específicos, como em pacientes com cistos complexos, alergia ao contraste iodado ou para avaliar a extensão do tumor em veias renais ou cava.
- Biópsia Renal: Indicada em casos selecionados, especialmente quando o diagnóstico é incerto ou para confirmar a natureza maligna de uma lesão quando há dúvidas sobre a necessidade de cirurgia.
Opções de Tratamento para o Câncer Renal
Primordialmente, é preciso dizer que o tratamento do câncer renal depende de vários fatores, incluindo o estágio da doença, a localização do tumor, a função renal do paciente e as comorbidades associadas. As opções incluem:
1. Nefrectomia Radical
A nefrectomia radical envolve a remoção completa do rim afetado, juntamente com a glândula adrenal e os linfonodos regionais. Este procedimento é geralmente indicado para tumores maiores ou localmente avançados.
2. Nefrectomia Parcial
A nefrectomia parcial, ou cirurgia conservadora do rim, é preferível para tumores menores (geralmente < 7 cm) ou em pacientes com função renal comprometida. Este procedimento visa remover o tumor enquanto preserva o máximo possível do tecido renal saudável. É o tratamento indicado na maioria dos casos.
3. Ablação por Radiofrequência ou Crioterapia
Técnicas minimamente invasivas que utilizam calor (radiofrequência) ou frio (crioterapia) para destruir o tecido tumoral. São geralmente reservadas para pacientes que não são candidatos à cirurgia.
4. Terapia Sistêmica
Para pacientes com doença metastática, a terapia sistêmica, incluindo terapia alvo e imunoterapia, é a principal opção de tratamento.
5. Vigilância Ativa
Utilizado para casos em que não seja necessário realizar uma intervenção imediata. Normalmente para tumores menores de 2 cm ou menores de 4 cm em pacientes com menor expectativa de vida ou em alguns casos de cistos complexos.
Além disso, outros fatores, como controle dietético da ingestão de sódio, são peças importantes do tratamento e preservação da função renal.
Cirurgia Robótica no Tratamento do Câncer Renal
A cirurgia robótica tem revolucionado o tratamento do câncer renal, oferecendo uma abordagem minimamente invasiva com várias vantagens em comparação com a cirurgia aberta e laparoscópica tradicional.
Desse modo, a partir de um console, o sistema oferece visão 3D de alta definição e instrumentos articulados que permitem movimentos precisos e delicados.
Vantagens da Cirurgia Robótica
- Precisão Cirúrgica
- Movimentos Articulados: Os instrumentos robóticos têm maior amplitude de movimento em comparação com as mãos humanas, permitindo manobras precisas em espaços confinados.
- Visão Ampliada: A visão 3D de alta definição permite uma visualização detalhada das estruturas anatômicas, facilitando a dissecção precisa e a preservação do tecido saudável.
- Menor Invasividade
- Incisões Menores: A cirurgia robótica requer incisões menores do que a cirurgia aberta, resultando em menos dor pós-operatória e menor risco de infecção.
- Recuperação Mais Rápida: Pacientes submetidos à cirurgia robótica geralmente têm uma recuperação mais rápida, com menor tempo de internação hospitalar e retorno mais precoce às atividades normais.
- Preservação da Função Renal
- Nefrectomia Parcial Robótica: A cirurgia robótica é particularmente vantajosa para a nefrectomia parcial, permitindo a remoção precisa do tumor com máxima preservação do tecido renal saudável. Assim sendo, é crucial para pacientes com função renal comprometida ou com tumores bilaterais.
- Redução de Complicações
- Menor Perda Sanguínea: devido à precisão dos instrumentos robóticos, reduz-se o risco de sangramento durante a cirurgia.
- Menor Risco de Complicações: Estudos mostram que a cirurgia robótica está associada a uma menor taxa de complicações pós-operatórias, como infecções e hérnias incisionais.
- Resultados Oncológicos
- Margens Cirúrgicas Negativas: A cirurgia robótica permite a obtenção de margens cirúrgicas negativas (com ausência de células tumorais) com maior frequência, o que é crucial para o controle local do câncer.
- Sobrevida Livre de Doença: Estudos comparativos mostram que a cirurgia robótica oferece resultados oncológicos equivalentes ou superiores à cirurgia aberta e laparoscópica.
Comparação com Outras Técnicas Cirúrgicas
- Cirurgia Aberta: Embora eficaz, a cirurgia aberta está associada a maior dor pós-operatória, maior tempo de recuperação e maior risco de complicações.
- Cirurgia Laparoscópica: A laparoscopia é menos invasiva do que a cirurgia aberta, mas pode ser tecnicamente desafiadora, especialmente para nefrectomias parciais. A cirurgia robótica supera essas limitações, oferecendo maior precisão e facilidade de execução.
Estudos que apoiam a utilização da cirurgia robótica no tratamento do Câncer Renal
1) A revisão sistemática e meta-análise de Cacciamani et al.: fornece uma avaliação abrangente dos resultados da nefrectomia parcial robótica (RPN), demonstrando resultados superiores em termos de perda de sangue, taxas de transfusão, complicações, internação hospitalar, readmissões e mortalidade geral quando comparada à nefrectomia parcial aberta.
Além disso, a RPN mostrou vantagens sobre a nefrectomia parcial laparoscópica em termos de tempo de isquemia, taxas de conversão e complicações.
2) Estudo de Leow et al.: realizaram uma meta-análise comparando a nefrectomia parcial robótica (RPN) e laparoscópica, descobrindo que a nefrectomia parcial robótica está associada a menores taxas de complicações e menor tempo de isquemia quente.
3) Estudo de Casale et al.: relataram a evolução das técnicas e resultados da nefrectomia parcial assistida por robô (RAPN), indicando que a RAPN é uma alternativa minimamente invasiva viável à nefrectomia parcial aberta, alcançando resultados cirúrgicos ideais na maioria dos pacientes.
4) Estudo de Razdan et al.: forneceram insights de um estudo colaborativo multi-institucional, destacando a importância das características do paciente e do tumor na previsão de resultados cirúrgicos e confirmando a segurança e eficácia da nefrectomia parcial robótica (RPN).
No geral, a literatura médica apoia o uso da cirurgia robótica no tratamento do câncer renal, particularmente para nefrectomia parcial, com evidências indicando resultados superiores ou equivalentes em comparação às abordagens tradicionais.
Conclusão
O câncer renal é uma doença complexa que requer uma abordagem multidisciplinar para o diagnóstico e tratamento. Nesse aspecto, a cirurgia robótica emergiu como uma opção de tratamento altamente eficaz, oferecendo vantagens significativas em termos de precisão, menor invasividade, preservação da função renal e redução de complicações.
Para pacientes e médicos, é essencial discutir todas as opções de tratamento disponíveis, considerando as características individuais do tumor e do paciente. A escolha do tratamento deve ser individualizada, levando em consideração as melhores evidências científicas e as preferências do paciente, sempre com o objetivo de maximizar os resultados oncológicos e a qualidade de vida.
Lembrando que a evolução contínua da tecnologia robótica promete melhorar ainda mais os resultados do tratamento do câncer renal, consolidando-se como uma ferramenta indispensável no arsenal terapêutico dos urologistas.
Referências
- Cacciamani GE, Medina LG, Gill T, et al. (2018). “Impact of Surgical Factors on Robotic Partial Nephrectomy Outcomes: Comprehensive Systematic Review and Meta-Analysis..” The Journal of Urology. 2018;200(2):258-274. doi:10.1016/j.juro.2017.12.086.
- Leow JJ, Heah NH, Chang SL, Chong YL, Png KS. (2016).” Outcomes of Robotic Versus Laparoscopic Partial Nephrectomy: An Updated Meta-Analysis of 4,919 Patients.” The Journal of Urology. 2016;196(5):1371-1377. doi:10.1016/j.juro.2016.06.011.
- Casale P, Lughezzani G, Buffi N, et al. (2019). “Evolution of Robot-Assisted Partial Nephrectomy: Techniques and Outcomes From the Transatlantic Robotic Nephron-Sparing Surgery Study Group.” European Urology. 2019;76(2):222-227. doi:10.1016/j.eururo.2018.11.038.
- Razdan S, Okhawere KE, Ucpinar B, et al. (2023). “The State of Robotic Partial Nephrectomy: Operative, Functional, and Oncological Outcomes From a Robust Multi-Institution Collaborative.” Urology. 2023;173:92-97. doi:10.1016/j.urology.2022.12.021.