O cálculo renal, nefrolitíase ou popularmente conhecido como “pedra nos rins“, é uma condição urológica comum que afeta cerca de 10% da população mundial segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). É caracterizado pela formação de cristais minerais no trato urinário, podendo causar dor intensa, infecções e, em casos graves, insuficiência renal.
Conhecida por muitos como “a pior dor da vida” é certamente uma condição que requer uma visita ao médico para identificação da melhor conduta a ser tomada.
Neste artigo, abordaremos os métodos de diagnóstico, os tratamentos mais avançados e o papel fundamental do urologista no manejo dessa condição. Além disso, incluiremos as últimas evidências científicas sobre o tema para embasar as melhores práticas clínicas.
Quer saber mais? Então venha conosco nessa leitura…
DESCUBRA NA LEITURA DESSE TEXTO
- O que é o cálculo renal ou “pedra nos rins”
- Diagnóstico do cálculo renal
- Tratamento para o cálculo renal
- Prevenção do cálculo renal
- O papel no Urologista no manejo do cálculo renal
O que é o cálculo renal ou “pedra nos rins”
Os cálculos renais são agregados sólidos formados por minerais e sais presentes na urina. Origina-se quando estão elevados na urina substâncias como cálcio, oxalato e ácido úrico ou devido à diminuição de citrato. Eles podem se desenvolver em qualquer parte do sistema urinário, mas são mais comuns nos rins.
Tipos de Cálculos Renais
- Cálculos de Cálcio (Oxalato de Cálcio ou Fosfato de Cálcio): Responsáveis por 80% dos casos, estão associados a dieta rica em sal e proteína animal. Grande incidência em mulheres de 20 a 30 anos de idade.
- Cálculos de Ácido Úrico: Comuns em pacientes com gota ou dieta rica em purinas, com elevados níveis de ácido úrico na urina.
- Cálculos de Estruvita: Relacionados a infecções urinárias por bactérias produtoras de urease (ex: Proteus mirabilis). Muito comum em mulheres com recorrência de infecções no trato urinário.
- Cálculos de Cistina: mais raros, decorrentes de uma doença renal hereditária chamada cistinúria, afetando tanto homens quanto mulheres.
Principais fatores de risco:
Normalmente, o acúmulo de cálcio e sais ácidos são os principais causadores das pedras nos rins. Alguns outros fatores de risco também podem colaborar para o surgimento de pedras nos rins, por exemplo, se alguém de sua família já teve o problema, as chances de você apresentar podem ser maiores. Os homens também costumam ter mais chances de desenvolver cálculos renais.
Com relação à alimentação, os fatores de risco para pedras nos rins são dietas ricas em proteínas, sal (sódio) e açúcar. Por fim, pessoas que não bebem a quantidade de água adequada diariamente aumentam o risco de desenvolver cálculos renais.
Estudos recentes, como o publicado no Journal of Urology (2023), destacam que a obesidade e o diabetes mellitus são fatores de risco emergentes para a formação de cálculos renais.
Além disso, um estudo prospectivo de Ferraro et al (2024) analisou a relação entre as substâncias químicas urinárias de 24 horas e o risco de formação de cálculos renais. Este estudo identificou que níveis elevados de cálcio, oxalato, fósforo e sódio na urina estão associados a um maior risco de formação de cálculos.
Análises estatísticas destacaram a importância relativa de cada fator, com cálcio, volume urinário e citrato sendo os mais significativos.
Diagnóstico do cálculo renal
Enquanto alguns casos podem ser assintomáticos, descobertos em exames de imagem de rotina, os sintomas da nefrolitíase são facilmente observados, visto que o quadro proporciona dor intensa ao paciente. A dor surge quando a pedra gera obstrução ao fluxo de urine e fica aprisionada no rim, ou então quando ela começa a tentar sair pelo ureter (conduto de escoamento da urina dos rins para a bexiga). Essa dor, geralmente intensa e em ondas na região do flanco ou parte inferior das costas, pode irradiar para virilha ou testículo. Dores também podem ser percebidas quando as pedras ocasionam algum tipo de infecção.
Existem alguns casos, caso o cálculo desça ao nível dos ureteres, pode se instalar uma dor considerável conhecida com cólica ureteral.
Além da dor, os principais sintomas que podem ser percebidos por portadores de pedra nos rins são:
- urina rosa, vermelha ou marrom devido à presença de sangue (hematúria)
- aumento da necessidade de urinar (frequência)
- dor intensa na parte de baixo das costas
- náuseas e vômitos
- dificuldade de repouso devido a dor intensa
Além disso, nos casos em que a pessoa apresenta infecção, sintomas como febre, calafrios e até mesmo diarreias podem surgir.
Por isso, o diagnóstico preciso é essencial para definir a melhor estratégia de tratamento. Os métodos mais utilizados incluem:
1. Exames de Imagem
- Tomografia Computadorizada (TC) sem contraste: Padrão-ouro para detecção, com sensibilidade de 95%.
- Ultrassom abominal: Menos preciso mas de fácil realização, seguro para gestantes e crianças.
- Radiografia simples (Raio-X): Limitado, pois não detecta cálculos radiotransparentes (ex: ácido úrico).
- Urografia excretora: Um raio-x com contraste, exame antigo, raramente utilizado atualmente.
2. Análises Laboratoriais
- Exame de urina (EAS e cultura): Identifica infecções e cristais.
- Dosagem sanguínea (cálcio, ácido úrico, creatinina): Avalia função renal e causas metabólicas.
Recentemente, um estudo do New England Journal of Medicine (2022) reforçou que a análise da composição do cálculo (por espectrofotometria infravermelha) é crucial para prevenir recorrências à medida que entendemos melhor os fatores causadores dessa situação.
Tratamento para o cálculo renal
Cálculos renais de pequeno diâmetro (principalmente menores de 5mm), podem ser expelidos espontaneamente. Por outro lado, há casos em que uma intervenção médica é necessária.
O paciente com suspeita de crise de cólica renal deve procurar uma emergência ou urologista para uma avaliação inicial. De acordo com os sintomas e, geralmente, exames de imagem como ecografia ou tomografia, o médico pode avaliar a chance de a crise se resolver espontaneamente ou a necessidade de algum procedimento cirúrgico.
Normalmente, o tratamento tem início com a administração de remédios analgésicos e antiespasmódicos. Em casos de baixa complexidade, o tratamento pode ser mantido em casa com o uso de medicamentos orais, repouso e hidratação, para facilitar a saída das pedras.
Quando há maior risco associado, como infecção urinária, dor intratável ou piora nos exames que avaliam a função dos rins, uma internação hospitalar e procedimento cirúrgico de emergência podem ser indicados.
Em suma, o tratamento depende do tamanho, localização e sintomas do cálculo. As opções incluem:
1. Tratamento Conservador (para cálculos <5mm)
- Hidratação intensa (2-3L/dia)
- Analgésicos (AINEs ou opioides para dor)
- Medicações expulsivas (alfa-bloqueadores como tansulosina)
2. Litotripsia Extracorpórea (LECO)
Utiliza ondas de choque para fragmentar cálculos. Eficaz para pedras <2cm, mas com taxa de retratamento de 20-30% (segundo European Urology, 2023).
3. Ureteroscopia (URS) com Laser
Procedimento minimamente invasivo que fragmenta e remove cálculos no ureter ou rim. Sucesso em 85-90% dos casos.
4. Nefrolitotripsia Percutânea (NLPC)
Indicada para cálculos >2cm ou complexos (ex: cálculos coraliformes). Requer internação e anestesia geral.
Como curiosidade, pesquisas recentes, como a publicada na Nature Reviews Urology (2024), destacam o uso de tecnologias a laser de alta potência (Holmium ou Túlio) como o futuro do tratamento de cálculos renais.
Prevenção do cálculo renal
Após o diagnóstico e tratamento inicial de cálculo renal, a maioria dos pacientes têm indicação de realizar exames na urina (urina de 24 horas) e no sangue, para descobrir se possuem alguma alteração que justifique o aumento do risco de formação de novos cálculos e a sugestão de implantação de uma nova rotina preventiva para essas pessoas.
Com esta avaliação, que pode ser realizada com o urologista ou nefrologista, pode-se indicar dietas específicas ou medicamentos que corrigem estas alterações e podem reduzir o risco de recorrência (retorno) dos cálculos.
Ressalta-se que a recorrência de cálculos renais atinge 50% dos pacientes em 5 anos. Algumas dessas estratégias preventivas incluem:
1. Modificações Dietéticas
- Reduzir sódio (<2g/dia)
- Aumentar ingestão de citrato (limonada natural)
- Controlar proteína animal
2. Tratamento Farmacológico
- Diuréticos tiazídicos (para hipercalciúria)
- Alopurinol (para hiperuricosúria)
- Citrato de potássio (para hipocitraturia)
Nesse sentido, indo além, um estudo da Mayo Clinic (2023) demonstrou que suplementação com probióticos pode reduzir a formação de oxalato em pacientes predispostos.
Outro estudo recente de Jiang et al (2025), identificou proteínas plasmáticas associadas ao risco de cálculos renais por intermédio de mecanismos genéticos e possíveis alvos terapêuticos associados.
O papel do Urologista no manejo do cálculo renal
Antes de mais nada, é preciso dizer que o urologista é o especialista responsável pelo diagnóstico, tratamento e prevenção de cálculos renais. Suas funções incluem:
- Avaliação clínica e metabólica para identificar causas subjacentes.
- Indicação do melhor método cirúrgico conforme perfil do paciente.
- Acompanhamento pós-tratamento para evitar recidivas.
Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), pacientes com múltiplos episódios de cálculo renal devem ser encaminhados a um especialista em litíase.
Vale lembrar que o cálculo renal é uma condição prevalente e potencialmente debilitante, mas com diagnóstico preciso e tratamento adequado, a maioria dos pacientes tem excelente recuperação. Avanços tecnológicos, como laser de Túlio e análise metabólica personalizada, estão revolucionando o manejo dessa doença.
Portanto, se você apresenta sintomas como dor lombar intensa, hematúria ou infecções urinárias recorrentes, procure um urologista para avaliação especializada.
Referências
- Ferraro PM, Taylor EN, Curhan GC et al. (2024). “24-Hour Urinary Chemistries and Kidney Stone Risk.” American Journal of Kidney Diseases. The Official Journal of the National Kidney Foundation. 2024;84(2):164-169. doi:10.1053/j.ajkd.2024.02.010
- Jiang Q, Su X, Liao W, et al. (2025).” Exploring Susceptibility and Therapeutic Targets for kidney Stones Through Proteome-Wide Mendelian Randomization.” Human Molecular Genetics. 2025;34(1):47-63. doi:10.1093/hmg/ddae159.